Era uma vez um instrutor que ensinava física aos alunos. Um dia, ele os chamou para a sala de aula e mostrou-lhes uma grande placa quadrada de metal ao lado de um radiador quente. Cada aluno colocou a mão na placa e sentiu que o lado próximo ao radiador estava frio, enquanto o lado distante estava quente. O instrutor perguntou: “Por que você acha que isso acontece?” Alguns alunos sugeriram que era devido à convecção das correntes de ar, enquanto outros pensaram que poderia haver metais diferentes na placa. Eles propuseram muitas explicações criativas, mas nenhum deles se rendeu à ideia de dizer “Eu não sei” ou “Isso parece impossível”.
A resposta surpreendente foi que o instrutor havia girado a placa antes de os alunos entrarem na sala.1
Agora, considere o aluno que gagueja freneticamente e responde: “Eh, talvez seja devido à condução de calor?” Eu pergunto: “Será que essa crença é apropriada?” As palavras são facilmente pronunciadas e enfáticas, mas elas controlam realmente a antecipação?
Refletindo sobre a pequena frase “por causa de”, que vem antes de “condução de calor”, podemos pensar em outras explicações que poderíamos colocar após ela. Por exemplo, poderíamos dizer “por causa do flogisto” ou “por causa da magia”.
Você pode argumentar que a frase “por causa da magia” não é uma explicação científica. Na verdade, as frases “por causa da condução de calor” e “por causa da magia” pertencem a gêneros literários diferentes. “Condução de calor” é algo que Spock poderia dizer em Star Trek, enquanto “magia” seria algo dito por Giles em Buffy, a Caça-Vampiros.
No entanto, como bayesianos, não nos importamos com os gêneros literários. Para nós, a substância de um modelo é o controle que ele exerce sobre a antecipação. Se você diz “condução de calor”, que experiência isso o leva a antecipar? Em circunstâncias normais, isso leva você a prever que, se você colocar a mão na lateral da placa próxima ao radiador, esse lado ficará mais quente do que o lado oposto. Se “por causa da condução de calor” também pode explicar o resfriamento do lado adjacente ao radiador, então pode explicar praticamente qualquer coisa.
E, como todos nós sabemos a essa altura (espero), se você for igualmente bom em explicar qualquer resultado, não terá conhecimento. “Por causa da condução de calor”, usado dessa maneira, é uma hipótese disfarçada de entropia máxima. É uma antecipação isomórfica para dizer “mágica”. Parece uma explicação, mas não é.
Suponha que, em vez de adivinhar, medimos o calor da placa de metal em vários pontos e em vários momentos. Vendo uma placa de metal próxima ao radiador, normalmente esperaríamos que as temperaturas pontuais satisfizessem um equilíbrio da equação de difusão em relação às condições de contorno impostas pelo ambiente. Você pode não saber a temperatura exata do primeiro ponto medido, mas após medir os primeiros pontos — não sou físico o suficiente para saber quantos seriam necessários — você pode adivinhar o resto.
Um verdadeiro mestre na arte de usar números para restringir a antecipação de fenômenos materiais — um físico — faria algumas medições e diria: “Esta placa estava em equilíbrio com o ambiente há dois minutos e meio, virou e está agora se aproximando do equilíbrio novamente”.
O erro mais profundo dos alunos não é simplesmente que eles falharam em restringir a antecipação. O erro mais profundo deles é que eles pensaram estarem fazendo física. Eles diziam a frase “por causa de”, seguida pelo tipo de palavras que Spock poderia dizer em Jornada nas Estrelas, e achavam que assim entravam no magistério da ciência.
Não é assim. Eles simplesmente mudaram sua magia de um gênero literário para outro.
12NT.: Seriado norte-americano popular na década de 1990. Título original em inglês: Buffy, the vampire slayer.
1. Search for “heat conduction.” Taken from Joachim Verhagen, http://web.archive.org/web/ 20060424082937/http://www.nvon.nl/scheik/best/diversen/scijokes/scijokes.txt, archived version, October 27, 2001.