Na arte da racionalidade, há uma disciplina de proximidade com o problema — trata-se de tentar examinar evidências que estejam o mais próximo possível da questão original, de modo a excluir o máximo de outros argumentos quanto for possível.
Os irmãos Wright dizem: “Meu avião vai voar”. Se você observar a autoridade deles (mecânicos de bicicletas que são excelentes físicos amadores) e, então, fizer uma comparação com a autoridade de, digamos, Lorde Kelvin, você descobrirá que Lorde Kelvin é a maior autoridade.
No entanto, se você exige ver os cálculos dos irmãos Wright e consegue acompanhá-los, e exige ver os cálculos de Lorde Kelvin (que provavelmente não possui nenhum além de sua própria incredulidade), então a autoridade perde relevância.
Ao observar o avião voar de verdade, os próprios cálculos se tornam questionáveis para muitos propósitos, e a autoridade de Kelvin nem vale a pena ser considerada.
Quanto mais diretamente seus argumentos abordarem uma questão, sem inferências intermediárias — quanto mais próximos os nós observados estiverem do nó consultado, na Grande Teia de Causalidade — mais poderosa será a evidência. É um teorema desses diagramas causais que você nunca pode obter mais informações de nós distantes do que de nós estritamente mais próximos que bloqueiam os distantes.
Jerry Cleaver disse: “O que te deixa para baixo não é a falha em aplicar alguma técnica complexa de alto nível. É negligenciar os fundamentos. Não ficar atento.” [1]
Assim como é melhor argumentar a física do que as credenciais, é também melhor argumentar a física do que a racionalidade. Quem era mais racional, os irmãos Wright ou Lorde Kelvin? Se pudermos verificar seus cálculos, não precisamos nos preocupar! A virtude de um racionalista não pode fazer um avião voar diretamente.
Se você esquecer esse princípio, aprender sobre mais vieses pode te machucar, pois o distrairá de argumentos mais diretos. É muito fácil argumentar que alguém está exibindo o viés n.º 182 em seu repertório de acusações totalmente genéricas, mas você não pode resolver uma questão factual sem evidências mais precisas. Se houver razões tendenciosas para dizer que o Sol está brilhando, isso não o torna escuro.
Assim como você nem sempre pode vivenciar o hoje, nem sempre pode verificar os cálculos hoje.² Às vezes, você não conhece material de apoio suficiente, às vezes há informações privadas, às vezes simplesmente não há tempo. Há um número infelizmente grande de vezes em que vale a pena julgar a racionalidade do orador. Você deve sempre o fazer com um sentimento de vazio em seu coração, porém, uma sensação de que algo está faltando.
Sempre que possível, aproxime-se da pergunta original — pressione-se contra ela — aproxime-se o suficiente para abraçá-la!
Referências
[1] Jerry Cleaver, Immediate Fiction: A Complete Writing Course (Macmillan, 2004).