Até agora, eu distingui entre crença como controladoras de expectativa, crença na crença, professar e torcer. Dentre elas, podemos chamar as crenças que controlam a expectativa de “crenças apropriadas” e as outras formas de “crença inadequada”. Uma crença apropriada pode estar errada ou ser irracional, como quando alguém realmente espera que a oração cure seu bebê doente. Mas as outras formas, indiscutivelmente, “não são crenças”.
Outra forma de crença inadequada é a crença como identificação de grupo — como uma forma de pertencimento. Robin Hanson usa a excelente metáfora de usar roupas incomuns, um uniforme de grupo como as vestes de um padre ou um quipá judaico, e por isso chamarei isso de “crença como vestimenta”.
Em termos de psicologia realista humana, os muçulmanos que pilotaram aviões contra o World Trade Center, sem dúvida, se viam como heróis defendendo a verdade, a justiça e o caminho islâmico de horrendos monstros alienígenas, como no filme Independence Day. Apenas um nerd muito inexperiente, do tipo que não tem ideia de como os não nerds veem o mundo, diria isso em voz alta em um bar no Alabama. Não é uma coisa americana de se dizer. A coisa americana de se dizer é que os terroristas “odeiam nossa liberdade” e que lançar um avião contra um prédio é um “ato covarde”. Você não pode dizer as palavras “autossacrifício heroico” e “homem-bomba” na mesma frase, mesmo para descrever com precisão como o Inimigo vê o mundo. O próprio conceito da coragem e altruísmo de um homem-bomba é a vestimenta inimiga —dá para perceber, porque o Inimigo fala sobre isso. A covardia e a sociopatia de um homem-bomba é a vestimenta americana. Não há aspas que você possa usar para falar sobre como o Inimigo vê o mundo; seria como se fantasiar de nazista para o Halloween.
A crença como vestimenta pode ajudar a explicar como as pessoas podem ser apaixonadas por crenças inadequadas. A mera crença na crença, ou a profissão religiosa, teria alguns problemas para criar efeitos emocionais genuínos, profundos e poderosos. Pelo menos é o que eu suponho. Confesso que não sou um especialista no assunto. Mas a minha impressão é esta: as pessoas que pararam de ter expectativas como se sua religião fosse verdadeira farão de tudo para se convencer de que são apaixonadas, e esse desespero pode ser confundido com paixão. Porém, esse não é o mesmo fervor que eles tinham quando criança.
Por outro lado, é muito fácil para um ser humano pertencer a um grupo genuinamente, apaixonada e profundamente, torcer por seu time favorito. (Esta é a base sobre a qual repousa a fraude de “Republicanos x Democratas” e falsos dilemas análogos em outros países, mas isso é assunto para outra ocasião.) A identificação com uma tribo é uma força emocional muito forte. As pessoas estão dispostas a morrer por isso. E uma vez que você faz as pessoas se identificarem com uma tribo, as crenças que são a vestimenta dessa tribo serão expressas com toda a paixão de pertencer a essa tribo.