A política é o assassino da mente

É comum vermos pessoas perdendo a cabeça quando o assunto é política. As razões evolutivas para esse comportamento são claras e merecem análise: em tempos ancestrais, a política era questão de vida ou morte. Sexo, riqueza, aliados e reputação eram cruciais para a sobrevivência. Mesmo hoje, ao discutirmos temas como o aumento do salário mínimo, nosso cérebro usa as mesmas adaptações que nos ajudaram a sobreviver no passado. Estar do lado errado da discussão poderia significar a morte, enquanto estar do lado certo poderia ser a chave para eliminar nossos inimigos odiados!

Se você quer ressaltar a importância da ciência e da racionalidade, evite escolher tópicos políticos atuais, se possível. Se seu argumento se relaciona diretamente com a política, é melhor falar sobre Luís XVI durante a Revolução Francesa. A política é uma esfera vital para aplicarmos nossa racionalidade individual, mas é péssima para aprender ou debater racionalidade, a menos que todos os debatedores já sejam racionais. A política é a continuação da guerra por outros meios. Os argumentos são soldados.

Após decidir de que lado você está, é preciso apoiar todos os argumentos desse lado e atacar todos os do lado oposto; caso contrário, é como esfaquear seus próprios soldados pelas costas — auxiliando o inimigo. Pessoas normalmente equilibradas, que considerariam todos os lados de uma questão em suas vidas profissionais, como cientistas, podem de repente se transformar em zumbis repetindo slogans quando se trata de tomar partido pelo lado Azul ou Verde em uma questão política.

Na inteligência artificial, especialmente no raciocínio não monotônico, há um problema padrão: “Todos os Quakers são pacifistas. Nem todos os republicanos são pacifistas. Nixon é quaker e republicano. Nixon é um pacifista?”

Por que escolher esse exemplo? Para inflamar as emoções políticas dos leitores e distraí-los da questão principal? Para fazer com que republicanos se sintam indesejados em cursos de inteligência artificial e desencorajá-los a entrar no campo? (E não, não sou republicano. Nem democrata.)

Por que alguém usaria um exemplo tão provocativo para ilustrar o raciocínio não monotônico? Provavelmente porque o autor simplesmente não resistiu à tentação de criticar os odiados Verdes. É tão satisfatório dar uma boa alfinetada, você sabe, é como tentar resistir a um biscoito de chocolate.

Assim como os biscoitos de chocolate, nem tudo que dá prazer é bom para você.

Não estou afirmando que devemos ser apolíticos ou mesmo adotar o ideal de ponto de vista neutro da Wikipedia. Mas tente evitar críticas contundentes, se possível. Se o seu tópico está legitimamente relacionado à tentativa de proibir a evolução nos currículos escolares, vá em frente e fale sobre isso —  mas não culpe explicitamente todo o Partido Republicano. Afinal, alguns de seus leitores podem ser republicanos e podem acreditar que o problema são apenas alguns indivíduos e não o partido inteiro. Da mesma forma que acontece com o princípio de ponto de vista neutro da Wikipedia, não importa se você acha que o Partido Republicano é realmente culpado. É melhor para o desenvolvimento da comunidade discutir o assunto sem evocar cores políticas.