Ocasionalmente, acontece de alguém se deparar com algumas das minhas crenças transumanistas, que diferem das minhas ideias relacionadas à racionalidade humana. Essas crenças incluem ideias estranhas e exóticas, como superinteligência e inteligência artificial amigável. E esse alguém as rejeita.
Se esse alguém é questionado sobre o motivo da sua objeção, não é incomum que diga: “Por que devo acreditar em qualquer coisa que Yudkowsky diz? Ele não tem doutorado!”
E ocasionalmente outra pessoa, ouvindo, diz: “Ah, você deveria fazer um doutorado, para que as pessoas o ouçam”. Ou esse conselho pode até ser dado pela mesma pessoa que expressou descrença, dizendo: “Volte quando tiver um doutorado”.
Embora existam boas e más razões para se fazer um doutorado, essa é uma das ruins.
Existem muitas razões pelas quais alguém tem uma reação adversa às teses transumanistas. A maioria são questões de reconhecimento de padrões, e não de pensamento verbal: a tese é associada à “ideia estranha e bizarra” ou “ficção científica” ou “seita do fim do mundo” ou “juventude excessivamente entusiasmada”.
Assim, imediatamente, na velocidade da percepção, a ideia é rejeitada. Se, depois, alguém perguntar “Por que não?”, isso desencadeia uma busca por justificativa. Mas essa busca não necessariamente chegará à verdadeira razão — por “verdadeira razão” não quero dizer a melhor razão que poderia ser oferecida, mas sim, as causas que foram decisivas como fato histórico, no momento exato em que a rejeição ocorreu. Em vez disso, a busca por justificativa encontra o fato que soa justificável: “Este palestrante não tem doutorado”.
Mas eu também não tenho doutorado quando falo sobre a racionalidade humana, então por que a mesma objeção não é levantada nesse caso?
Mais importante ainda, se eu tivesse um doutorado, as pessoas não considerariam isso um fator decisivo para acreditar em tudo o que digo. Pelo contrário, ocorreria a mesma objeção inicial, pelos mesmos motivos; e a busca por justificação, depois, terminaria em um ponto diferente.
Eles diriam: “Por que eu deveria acreditar em você? Você é apenas mais um doutor! Existem muitos por aí. Volte quando for bem conhecido em sua área e professor titular em uma grande universidade.”
Mas as pessoas realmente acreditam em quaisquer professores de Harvard que dizem coisas estranhas? Claro que não. (Mas se eu fosse um professor em Harvard, seria de fato mais fácil chamar a atenção da mídia. Os repórteres inicialmente não inclinados a acreditar em mim — que provavelmente também não estariam inclinados a acreditar em um doutor qualquer — ainda assim fariam reportagens sobre mim, porque seria notícia que um professor de Harvard acreditasse em uma coisa tão estranha.)
Se você está dizendo coisas que soam erradas para um novato, em vez de apenas soltar baboseiras tecnológicas que parecem mágicas sobre tranças de quarks lépticos em dimensões N + 2; e se o ouvinte for um estranho, não familiarizado com você pessoalmente nem com o assunto da sua área; então suspeito que o ponto no qual a pessoa média começará realmente a dar crédito, superando sua impressão inicial, puramente devido a credenciais acadêmicas, está em algum lugar próximo ao nível do Prêmio Nobel. Se tanto. Em linhas gerais, você precisa ter um nível de credencial acadêmica que se qualifique como “além do mundano”.
Pelo que sei, foi mais ou menos isso que aconteceu com Eric Drexler. Ele apresentou sua visão da nanotecnologia e as pessoas disseram: “Onde estão os detalhes técnicos?” ou “Volte quando tiver um doutorado!” E Eric Drexler passou seis anos escrevendo detalhes técnicos e obteve seu doutorado com Marvin Minsky por fazer isso. E, Nanosystems (Nanosistemas) é um ótimo livro. Mas será que as mesmas pessoas que disseram: “Volte quando tiver um doutorado” realmente mudaram de ideia sobre a nanotecnologia molecular? Não que eu saiba.
Da mesma forma, tem sido uma regra geral no Machine Intelligence Research Institute que, independentemente do que devamos fazer para aumentar nossa credibilidade, quando realmente o fazemos, nada muda significativamente. Por exemplo, quando alguém diz: “Você realiza algum tipo de desenvolvimento de código? Não estou interessado em apoiar uma organização que não desenvolve código”, mencionamos o OpenCog, mas nada muda. Ou quando alguém aponta que Eliezer Yudkowsky não possui credenciais acadêmicas, nomeamos o Professor Ben Goertzel como Diretor de Pesquisa, mas nada muda. A única coisa que realmente parece aumentar nossa credibilidade é ter pessoas famosas associadas à organização, como Peter Thiel nos financiando ou Ray Kurzweil no Conselho.
Essa pode ser uma informação importante para jovens empresas e consultores iniciantes — o motivo que clientes em potencial apontam como razão para a rejeição pode não ser o fator determinante; portanto, é preciso ponderar cuidadosamente antes de investir grandes esforços. Se o investidor disser: “Se apenas suas vendas estivessem crescendo um pouco mais rápido!” ou se o cliente em potencial disser: “Parece bom, mas você não tem o recurso X”, isso pode não ser a verdadeira objeção. Resolver isso pode, ou não, mudar alguma coisa.
E isso também é algo a ser considerado durante desacordos. Robin Hanson e eu compartilhamos a crença de que dois racionalistas não devem concordar em discordar: eles não devem ter conhecimento comum de um desacordo epistêmico, a menos que algo esteja muito errado.
Suspeito que, em geral, se dois racionalistas se dispõem a resolver um desacordo que persistiu após a primeira troca, eles devem esperar encontrar que as verdadeiras fontes do desacordo são difíceis de comunicar ou difíceis de expor. Por exemplo:
- Conhecimento científico ou matemático incomum, mas bem fundamentado;
- Longas distâncias inferenciais;
- Intuições difíceis de verbalizar, talvez decorrentes de visualizações específicas;
- Zeitgeists herdados de uma profissão (que pode ter boas razões para isso);
- Padrões perceptualmente reconhecidos pela experiência;
- Meros hábitos de pensamento;
- Compromissos emocionais em acreditar em um determinado resultado;
- Medo de que um erro do passado seja refutado;
- Autoengano profundo por orgulho ou outros benefícios pessoais.
Se o tema em questão permitisse que todas as verdadeiras objeções fossem expostas facilmente, então o desacordo provavelmente seria resolvido de forma tão rápida, que nunca teria passado do primeiro encontro.
“Esta é a minha verdadeira objeção?” é algo que ambos os discordantes certamente deveriam estar se perguntando, para tornar as coisas mais fáceis para o outro. No entanto, tentativas de psicanalisar direta e publicamente o outro podem fazer com que a conversa se deteriore rapidamente, segundo minhas observações.
Ainda assim, “Essa é a sua verdadeira objeção?” deveria ser uma questão aceitável para os discordantes perguntarem humildemente, se houver alguma maneira produtiva de abordar essa subquestão. Talvez a regra pudesse ser que você pode perguntar abertamente: “Esse motivo simples e direto é sua verdadeira objeção, ou vem da intuição-X ou da influência profissional-Y?” Enquanto as possibilidades mais embaraçosas ficam na consciência do Outro, sendo sua própria responsabilidade lidar com elas.